A mulher como mulher, amante, mãe e esposa. A mulher e a idealização de todas as suas facetas.
Possession é um filme duríssimo sobre tudo isto, que se explora por entre os caminhos do fantástico demente. Não se deixem enganar pelo titulo...não, não é uma mulher possuída mas sim uma mulher que tomou posse da sua vivência.
Isabelle Adjani interpreta o papel dessa mulher que se desvia pelo indefinido de forma a viver! "É nos prometida uma enorme estabilidade após uma enorme dor".
O novo, o incentivo à mudança, surge esculpido sobre a forma de larva humana que faz de carcaças alheias o seu casulo, e Adjani alimenta-o, cuida-o, ama-o, esquecendo o seu marido, filho e amante.
Tenho pena que o realizador polaco tenha criado tamanha realidade distorcida envolta na separação de um casal enquanto tratava do divórcio.
Muito mais que um mero suspense, Rosemary's Baby deve todo o seu valor, não a uma história envolvente mas sim a uma belissima realização por parte de Polanski, e a um conjunto de inspiradas interpretações.
Nós conhecemos Rosemary, o seu marido e o casal vizinho estranhamente amistoso. Rapidamente nos identificamos com a protagonista, durante o período de gravidez. As suas dúvidas, os seus medos, tudo nos parece compreensível. Mas com o decorrer do filme o fio condutor parece-nos frágil, já não sabemos se devemos ver o redor segundo Rosemary, ou encara-lo como um estado de demência pelos olhos do seu marido Guy. O mais impressionante é que sem nunca perder fulgor, a obra não depende toda a sua qualidade no seu desfecho, ao contrário de muitas tentativas falhadas dentro do género.
O final não se assume como um choque momentâneo, a meio do filme tudo que há para saber, à partida já foi contado, pouco mais se desvenda e nós próprio traçamos as nossas suposições, e mesmo que elas não estejam de acordo com o que irá acontecer, no final tudo se irá desenvolver sobre a forma de um horrífico e inevitável desfecho.
Aquela cena final da gala, é provavelmente das melhores coisas que eu já alguma vez vi num filme.
A obra é toda ela uma dança ao som da música do tempo. Nem a música nem os passos de dança mudam, simplesmente troca-se de parceiro.
Nunca um confronto de eras foi tão bem retratado como em O Leopardo. A eximia execução de Visconti consegue com que o tema do seu final, se prolonge fora dos limites italianos, pois o que nós vamos não é a queda moral de um país, mas sim do homem em si.
A direcção do mestre italiano evidencia uma terna nostalgia e apreço pelo seu passado em conflito com uma náusea repudiosa em relação a decadência geracional.
Uma obra-prima!
Ao contrário de Fellini que com uma explosão de emoções aborda todos os seus tópicos do sentimento do homem, Antonioni, sobriamente e vagarosamente "dilui" a frustração e a busca pelo amor.
Um titulo irónico, cheio de promessas de futuro dinamismo, só que... o filme "simplesmente passeia". Mas a verdade é que nós não estamos a ver um filme, estamos a ver o homem! Belíssimo
Du Levande é a primeira obra estriada em Portugal em 2011, que eu tive a oportunidade de ver (não nas salas de cinema) e é um belíssimo filme.
Cada história é um só enquadramento, dando ao filme um aspecto estrutural episódico, mais precisamente uma colecção de sketchs cómicos. Com traços semelhantes a Kusturica e sobretudo Fellini, Andersson desenvolve esta sua exploração sobre a ansiedade, a alegria e o desespero do homem. Um filme sobre ele, um filme sobre nós!
Os intérpretes em questão, têm todos ele um fina cama branca que lhes cobre a cara, dando um aspecto espectral de morto-vivo, como se estes vagueassem fazendo do seu corpo a sua carcaça; o desespero do homem e parece-nos tudo tão absurdo neste novo universo, mas...sentimos esse absurdo, da mesma forma que ficamos perplexos com as peripécias que a vida nos reserva.
Mas o de mais fascinante nesta obra, é o espectador conseguir sentir uma leveza de alma, depois de ver quase 90 minutos de pura tragédia pessoal! Roy Andersson acredita que a salvação está no ridículo, e nós por momentos também...
"Era uma vez, um pequeno cineasta. Ainda não era bem cineasta e já era ameaçador. Pequeno e já era ameaçador? Pequeno e já cineasta. Ainda é só um cineasta que ameaça mas já suficientemente cineasta para terem sentido para sentirem para lhe terem feito sentir, para lhe fazerem sentir que é que era ameaçador, com o seu cinematógrafo. Que o seu cinematógrafo é ameaçador, que ele ameaçava, que ele ameaça o cinema, com o seu cinematógrafo por causa do seu cinematógrafo. Que o cinematógrafo ameaça o cinema. Cineasta para que se saiba que o seu cinematógrafo ameaça o cinema. Que o seu cinematógrafo seja ameaçador, seja uma ameaça."
Um exercício de estudo sobre o mecanismo e o perfeccionismo por detrás da rodagem. Segundo Godard a melhor obra sobre cinema de sempre. O filme não teria o mesmo ritmo ou charme, se não tivesse as "interpretações" latentes do espirituoso Danièle Hullet e da austera Jean-Marie Straub.
Da esperança à frustração, do egoísmo ao altruísmo, do despertar da vida ao repousar da morte! Esta saga humana assume-se como um aglomerado de todas as emoções sentidas no decorrer da vida.
Como Fellini outrora referiu: "O Neo-Realismo não devia retratar simplesmente a realidade social, mas também a realidade espiritual, a realidade metafísica, em suma tudo aquilo que existe no interior do homem".
Com duas interpretações magnificas (Anthony Quinn e Giulietta Masina) e uma metáfora de pernas e braços sobre a ironia da vida (Richard Basehart), Fellini cria um icónico e alegórico triângulo que personifica sucintamente e com uma grande eficácia, o homem, o seu sonho e o seu amor.
Uma caminhada trágica, que apesar de tocante revela-se inspirativa. A obra que deu inicio a todos os trejeitos fellinianos.
E com Nostalghia, vejo me de volta às obras do realizador que mais me assombra, Andrey Tarkovskiy.
Este filme de 1983, é a meu ver a menor obra (dentro dos filmes que já visualizei) do autor, o que não significa que seja mau, antes pelo contrário! Com esta obra o realizador russo convence-me de que o seu maior "defeito" é não conseguir fazer mau cinema.
Nostalghia é uma divagação da angustiosa saudade do país natal em fusão com a capacidade criativa. Mais uma vez, como acontece em Offret, o autor estende ao longo do crescendo do filme, um caminho todo ele espiritual de forma a levantar os fantasmas do passado, que impulsionaram o protagonista a alcançar a sua redenção final.
Esta senda assombrosa mas previsível, faz com que o filme atinja um estado de transe, o que me leva a crer que Nostalghia é sem sombra de dúvida a obra mais "elegante" do autor. Ao invés de acompanharmos emotivamente todo o dissecar do poderoso objecto em estudo (a humanidade) lentamente e despreocudamente deixa-mo-nos embalar pelos laivos suspiros da morte. Mesmo após um glorioso e trágico final, em que a luz se sobrepõe ao cataclismo real, nós não queremos deixar este mundo, esta jornada.
O apaixonante elemento hipnótico do filme é também a sua grande falha, ao denotar um certo pretenciosismo por parte do autor e por vezes uma faceta auto-indulgente. Tarkovskiy parece-me em certos momentos incapaz de dar um novo fôlego a esta sua saga, e por vezes as cenas revelam-se longas de mais de forma a não interromper abruptamente a transe imposta, o autor conseguia mais.
Esta é unicamente a minha segunda obra de Bresson, e o que é que eu posso dizer? O autor francês conseguiu encontrar num burro o seu actor perfeito.
A tão reconhecida distância emocional com que o realizador insiste existir nos seus actores é abordada desta vez de uma forma pouco ortodoxa, mas muito eficaz! De facto o verdadeiro "segredo" de autores como Ozu ou o próprio Bresson está na forma como estes contrariam a génese de uma personagem. Um actor dá-se normalmente a conhecer ao público, Bresson contraria o suposto e fecha os seus intérpretes de forma a fazer com que o público nutra algo mais que o normal sentimento necessário para o envolvimento para com a trama, algo que o obrigue a alcançar a essência da acção e do comportamento da personagem.
Com o burro Balthazar o brilhante autor francês desenha dois filmes: uma perfeita alegoria do desgaste físico e mental humano devido as sucessivas placagens deferidas pelo mundo; e a história sobre um burro, animal conformado como tantos outros, que jamais manifesta as suas emoções, independetemente das acções do exterior. O autor varia entre estas duas grandes narrativas sem nunca perder o fio à meada. O vulgar burro de carga que se mantem distante da crescente acção que o rodeia, num abrir e fechar de olhos revoluciona-se como La Fontainte e começa a resolver contas matemáticas para o delírio do público, personificando os 15 minutos de fama que o homem tanto almeja.
Um pequeno grande (enorme) filme, que de alguma inapalpável forma me abriu as portas do verdadeiro talento que reside na cinematografia do autor francês.
A visualização de uma nova obra de Bresson estará para breve...
Partam do princípio de que Trash Humpers não é um "filme", mas sim uma "simulação". O espectador tem de seguir os passos aconselhados pelo realizador antes do visionamento da obra. É preferível eu falar por Korine quanto às "indicações" prévias: Imaginem-se num local digamos... hostil por onde vocês já passaram mais que uma vez. Encontram o que parece ser uma cassete de vhs com aspecto de que não foi esquecida, simplesmente faz parte desse local, e sem qualquer tipo de identificação; por curiosidade levam-na para casa, porque vocês tem um leito de vhs. Sem qualquer tipo de expectativa, só mesmo por curiosidade, colocam a cassete dentro do leitor para ver se esta contem algo. Agora concentrem este prólogo como se tivesse sido de facto realidade...já está? Se sim já podem ver o filme.
Korine volta de novo ao mundo de uma surreal, mas verossímil realidade retratada parcialmente em Gummo.
Trash Humpers, é uma interessante experiência cinematográfica que acompanha um trio mascarado de velhotes que ocupam os seus tempos a vaguear, destruir, cantarolar e sobretudo a "acasalar" com todo o tipo de objectos que surgem (daí o nome da obra).
Um filme de curta de duração, com uma narrativa não linear e sem uma linha de acção concreta. Desta vez Harmony Korine leva ao extremo a sua poesia figurativa descomprometida da justificação, e não o faz mal. Filmado em 8 milímetros, segurada à mão, a câmara deambulante torna este mundo criado por Korine credível; as próprias falhas da cassete ajudam-nos a acreditar que de facto alguém filmou por acaso estes momentos e de algum esta obra veio ter às vossas mãos.
Na minha opinião com a sua última obra, Harmony Korine consegue expor melhor este seu imaginário, que transposto para o nosso mundo repleto de maldades inimagináveis não soa de todo a desencaixado, melhor do que em Gummo. Mas esta obra contém uma grande falha...exige de mais do espectador. De certa forma é nos pedido um prévio "trabalho de casa" de forma a sentir com a maior intensidade o seu conteúdo, mostrando que só por si Trash Humpers não consegue de todo enquadrar-se em qualquer tipo de interpretação ou justificação plausível.
Fico feliz que esta obra exista, mas é proibidio ao autor americano, voltar a repetir a experiência. Não é necessário haver duas Torres "Eiffeis".
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