Quarta-feira, 8 de Setembro de 2010

Blood Simple (1984) Joel Coen

Um asqueroso dono de um bar no Texas, contrata um detective corrupto para assassinar a sua mulher e o amante; só que as coisas não decorrem como planeado devido a um estranho jogo de traições.

E porque a primeira obra é sempre um passo de máxima importância na carreira de um autor, Joel Coen aliado ao seu irmão Ethan como produtor, consegue fazer de Blood Simple um testemunho do que se avizinhara nos próximos anos; todos os pontos característicos da imagem de marca destes irmãos estão presentes neste thriller surreal: uma narrativa que prende e a justaposição da violência crua com momentos sublimes e por vezes surreais do comportamento humano.

Para além de uma direcção precisa, o filme demonstra uma direcção artística muito interessante com um visual que se assemelha ao típico cheiro académico e goresco de obras marcantes com Evil Dead. A fotografia por muito boa que seja de pouco serve quando divorciada da trama, só que o trabalho visual é minucioso e apropriado para o contexto já que ajuda na criação de um ambiente surreal e de uma névoa pairante de "road movie".

Os Coen são daqueles realizadores que as cenas falam por si próprias, por isso acho que de é de grande interesse falar mais um pouco da história base e da bizarria "Coenesa" que a acompanha.

A heroína desta obra é a actual mulher de Ethan, a talentosa Frances McDormand, que interpreta o papel de Abby, a doce rapariga que rejeita o seu malfadado marido Marty (Dan Hedaya). O coração do filme é o repudio e o orgulho ferido que o homem traído sente para com a sua mulher e o seu amante (Tom Wopat), e a vingança que ele prepara para desencadear. Como já referido, para o trabalho sujo é contratado um detective corrupto, Visser (Emmet Walsh). Evoluindo sobre a forma de um noir contemporâneo, a acção decorre a partir da ira de dois homens e do distanciamento que uma mulher tenta manter de tal enfurecimento. A obra rapidamente esgueira-se para outro parodoxo; a partir de um argumento simples mas intenso nasce um novo contexto e uma nova realidade. Marty passa grande parte do filme aparentemente morto, de diversas maneiras em diversas situações mas a sua presença é sempre sentida e se de facto ele está morto nós nunca acabamos por saber... o filme tenta-nos incutir a algo, e a bipolariedade das personagens ajuda no processo; estamos sempre à espera que Marty surja do nada, ou que Abby a qualquer momento seja morta ou que haja um verdadeiro confronto entre Ray (o amante) e Marty...estes chamemos-lhe pressupostos tem origem na maestria com que Joel Coen consegue hipnotizar o público atrávés de alterações bruscas de auras. Através de tanta imprevisibilidade nasce em nós a ânsia e os fantasma do que parece destinado a acontecer assombram a nossa visualização.

Uma bela e imprevisível obra de estreia que se eleva ao nível que os seus criadores conseguiram atingir com o passar dos anos.

publicado por Diogo às 02:30
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