Domingo, 27 de Junho de 2010

Hausu (1977) Nobuhiko Obayashi

Surreal de mais para ser considerada uma obra para "crianças", Nobuhiko Obayashi projecta o seu trabalho por cima do sub-género de terror: casas assombradas, e torna Hausu num clássico da irrealidade extremista. À primeira vista Hausu tem tudo em comum com os filmes da sua família (até mesmo o nome). A trama gira à volta de um objecto (neste caso de um gato fantasma), um romance despedaçado dá origem à assombração, aparecimento tétrico de uma geisha, a mansão e o seu "aspecto humano" (personalidade do ambiente) e meia duzia de adolescentes arrebitadas equiparando-se até ao bando do Scooby-Doo. Graças à inspirada direcção de Obayashi, o conteúdo comum dá origem a algo jocosamente original.

A jovem Oshare e as suas amigas não sabem como iram aproveitar as férias da melhor maneira; depois de ferida com a chegada de uma nova madrasta Oshare decide passar uns dias fora de casa para poder descansar e estar mais em contacto com as memórias da sua falecida mãe, para tal decide ir visitar a sua solitária tia com as suas amigas a uma mansão nas montanhas. Já instaladas na mansão, com o decorrer das horas as jovens raparigas vão desaparecendo de diversas maneiras associadas sempre ás características que as definem (ex: Sweat, a rapariga viciada em limpezas é devorada pelos colchões que estava a limpar).

Um elenco tão simples dificilmente parece conseguir suster um filme interessante, mas a maneira como Hausu é desencadeado demonstra o lado avant-garde do projecto e o aspecto visual inovador em que se apoia, o filme transforma-se numa viagem louca em que sucessivamente as cenas conseguem-nos surpreender de diferentes modos. Obayashi usa descaradamente, um amplo arsenal de técnicas e efeitos especiais (muito muito rudimentares transformando o filme num eterno série B) tornando impossível o filme alguma vez atingir um ponto de "descanso". Ele aumenta o nivel de loucura de cada ambiente com as suas técnicas e usa-as como desculpa para destruir as inocentes heroínas das maneiras mais bizarras possiveis.

Cores psicadélicas, mobília com vida (vegetais também) e aquele maldito gato são alguns dos componentes que inspiram cada cena a atingir a originalidade e lançar a lógica para fora da janela.

O filme está carregado até à exaustão de pequenos pormenores "azeiteiros" (também situações), como as deliciosas cenas na varanda de Osahre com a sua nova madrasta (a forma foleira como o lenço da madrasta dança com o inexistente vento é tão ridículo mas tão genial!) ou a categorização dos grupo das aventureiras e os seus respectivos nomes, criando no grupo um poço de energias irritantes dando na hora da "execução" um toque de divertimento e prazer ao espectador. 

Como já referidos os efeitos especiais são do pior que há, mas Obayashi consegue sempre compensa-los com cada cena, tornando quase impensável haver um Hausu versão Cameron por exemplo.

O filme é demente e ilógico de mais para poder ser considerado assustador de uma forma convencional; quer dizer...o filme é demente e ilógico de mais para poder ser considerado de qualquer coisa convencional. O surrealismo estampado torna este filme uma peça "de terror" memorável.

Do género de filmes em que cenas como uma rapariga a ser triturada por um velho relógio conseguem ser consideradas das mais calmas e passivas. Quanto mais inexplicável mais "espectacular" o filme se torna. 

No final das contas Hausu não pode ser considerado um bom filme, mas é certamente uma obra que para se acreditar primeiro tem de ser ver.

O filme que me fez deixar de gostar do Mars Attack, dada à genuinidade que embarca este projecto asiático (à beira disto Mars Attack é um mero filme feito por um simples fã de série B).

O meu "pior filme favorito" até à data.


"FANTA! MELODY!"

publicado por Diogo às 22:34
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