Days of Being Wild é a segunda longa-metragem realizada por Wong Kar-Wai. Distinta da sua primeira obra (As Tears Go By) conseguimos em Days of Being Wild denotar o começo do estudo do tempo por parte do realizador, tema que será desenvolvido nas futuras obras que se seguirão.
Yudi/York (Leslie Cheung), é um playboy sem rumo que brinca despreocupadamente com as amantes que vai coleccionando ao longo do tempo. Kar-Wai dá-nos a oportunidade de conhecer duas das vitimas dos jogos de York, elas são Li Zhen (Maggie Cheung) uma tímida e insegura empregada de balcão e uma submissa e fugosa dançarina de cabaret (Carina Lau) cujo nome fica sempre na incógnita. Durante toda a sua vida, York sentiu-se incompleto e acusa sua madrasta de lhe estar a tirar identidade por esta nunca revelar o nome da sua verdadeira mãe. Sem propósito ou rumo, York faz dessa curiosidade, dessa suposta parcela da sua identidade o único objecto concreto pelo qual luta. Ao saber o nome da mãe, York parte para as Filipinas à procura do seu rumo, à procuro do seu objecto para por ele ser destruído.
Days of Being Wild marca o ínicio de uma nova era no cinema chinês e define-se como o verdadeiro primeiro filme de Kar-Wai. A fotografia é imaculável (primeiro filme com Christopher Doyle); distaciando-se do tipo de cinematografia de "As Tears Go By", nesta obra conseguimos já sentir, devido à clausura e ao constante fumo que rodeia por entre personagens, que os actores de Kar-Wai são mais que meras silhuetas, são também paredes, tecto, chão, todo o ambiente é personificado e fala connosco na forma de uma fusão de elementos perfeita.
Os diálogos secos mas deliciosos entoam como de costume pela boca do amante, a beleza feminina e impar contesta essas palavras num campo de obstáculos que é o tempo.
Este filme é um testamento, é o inicio de Kar-Wai como Kar-Wai e a concepção futura de um género de filme singular. Contrariando o tempo e quase que fazendo papel de adivinho, Kar-Wai choca-nos com uma cena misteriosa e enigmática que sintetiza como será o seu futuro.. após o desfecho final e depois da poeira assentar, Tony Leung (o rosto masculino do cinema de Kar-Wai) que não entra durante todo o filme, aparece-nos dentro de um quarto a executar uma série de movimentos precisos com subtileza (estava a arranjar-se); esta cena transcende-me, é irreal como é que Kar-Wai iludiu o tempo e desvendou-o na nossa cara, Leung é um testamento uma amostra do que está para vir, um futuro que ultrapassa sem dúvida o presente dos dias selvagens.
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