Segunda-feira, 5 de Julho de 2010

Julien Donkey-Boy (1999) Harmony Korine


Julien Donkey-Boy é uma história contada pelos olhos de um esquizofrénico. Inspirado esteticamente pelo movimento da vanguarda dinamarquesa - Dogma 95; um manifesto que incute os cineasta a filmar somente com simples câmeras de mão e a utilizar unicamente o som e a luz disponibilizados pelo ambiente. Korine filmou este projecto segundo os princípios deste movimento mas continuou-o com um extensivo trabalho de edição na pós-produção. O filme visualmente torna-se em algo singular e completamente apropriado à sua temática, tudo parece confuso e incerto quase que como se tivéssemos a ver cada cena como se não estivéssemos inteiramente cientes disso (vesti-mos a pele de um maluco).

As cenas não funcionam separadamente, já que ao contrário de muitas outras obras, apesar de separadamente sensacionais as cenas funcionam como um todo.

As personagens emergem gradualmente por entre este estilo kaleidoscópico. É nos contada a história de Julien (Ewen Bremner) um esquizofrénico com um pai bizarro (Werner Herzog), um irmão (Evan Neumann) fragilizado pela pressão desencadeada pelo seu pai, uma irmã - Pearl (Chloe Sevigny) grávida de um filho de Julien e uma avó quase que inexistente.

O dia-a-dia desta família consiste em constantes jogos psicológicos, combates de wrestling e brigas familiares, com o pai a assumir-se como a figura de proa desta família. Esta personagem interpretada pelo consagrado realizador alemão - Werner Herzog, passa o seu tempo a ouvir bluegrass enquanto usa uma máscara de gás (elemento que define a entrada num campo/dimensão pessoal).

Por vezes o filme torna-se estranhamente engraçado, por vezes triste, dando ao público uma perspectiva do filme totalmente de acordo com a intuição de um maluco, em que tudo é desorganizado e as emoções são confundidas e inexplicáveis. Certas cenas entram de tal maneira na mente contorbada de Julien que não se consegue distinguir se o que vemos é verdade ou não; a narrativa torna-se em algo impalpável já que o real é confundido com o devaneio de um louco - por exemplo a cena de abertura que envolve o ataque a um rapaz e à sua tartaruga de estimação - tamanha perfeição tamanha essência da loucura passada brilhantemente para nós mas que ao terminar desencaixa-se automaticamente do resto do filme, nós ficamos "será que isto aconteceu mesmo?" este aparente desencaixa-se alia-se a cenas de extrema realidade (como por exemplo a queda de Pearl na pista de gelo). Estes dois tipos de percepções aparentemente desconectadas funcionam como já referido num todo, dependendo inteiramente uma da outra; a loucura funde-se com a humanidade de um homem e o bombear cerebral deste esquizofrénico revela-se um estudo perfeito da loucura humana.

Esta obra é uma experiência chocante para grande parte do público, e como eu já tive oportunidade de ver, desvalorizada também. À primeira vista Julien Donkey-Boy parece uma confusa dança de cenas com o choque como seu único propósito de existência, enganam-se, com tempo o padrão do filme emerge (antes deste filme nem ia muito com a cara do Korine).

 


 

"Where are you mount Everest? Give me some Everest."

publicado por Diogo às 14:42
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