Passados oito anos de "descanso", Harmony Korine regressa com a história de uma comunidade "outsider". Em Paris, um jovem americano (Diego Luna) que trabalha como um imitador do Michael Jackson conhece uma emitadora de Marilyn Monroes que o convida a viver numa comunidade isolada na Escócia, onde vive com Charlie Chaplin, Shirley Temple e outros tantos imitadores.
Contrastando com as suas posteriores obras grotescas (Gummo e Julien Donkey-Boy) Mister Lonely expõem se de uma forma gentil e estranhamente dócil.
Harmony sempre se sentiu atraído por este tipo de personagens ocultas - os perigosos e impetuosos adolescentes em Kids, a juventude alienada em Gummo ou a esquizofrenia em Julien Donkey-Boy.
Em Mister Lonely o foco passa dos adolescentes para os adultos, ainda assim estas personagens crescem como indivíduos que psicologicamente brotaram como peculiares.
O filme dança por entre o drama existencialista e a comédia, continuamente, dando a Harmony a oportunidade de expor a fragilidade dos imitadores e também o absurdo das coisas, como a Rainha e o Papa na cama juntos ou os três Stooges e Lincoln a matarem ovelhas.
Paralelamente à trama principal é nos contada a história e de um grupo de freiras que faz queda-livre sem para-quedas e sem morrer, fanzendo das orações e da sua puridade de alma o seu aparo; se isto é simplesmente aleatoriedade ou se é um barato apelo à crença isso eu não, apenas sei que se trata de um momento de cinema único e no melhor que o filme tem.
Na minha opinião esta obra consegue ser até à data a obra mais acessível de Korine, recheado de personagens e cenas inesquecíveis que revelam que este realizador em primeiro lugar é um incontestável apaixonado pela sua criação. Variadissimas cenas de extrema beleza aparecem como desencaixadas e sem propósito pois Korine sente-se na obrigação de inclui-las no leque, aqui reside a verdadeira genuinidade deste projecto e realizador mas também a sua principal fraqueza.
Apesar de ter uma ideia base muito interessante, desde cedo que o filme perde o fio à meada tranformando-se numa sucessiva passagem de cenas originais. O assunto base é retratado com desleixo e nada no filme consegue atingir a sua devida intensidade, menos a cena de abertura que apesar de aparentemente descontextualizada sintetiza e retrata na perfeição o deslocamento e a infelicidade deste tipo de pessoas.
Uma nova etapa na prometedora carreira de Korine, um autor que eu aprendi a dar valor.
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