Sexta-feira, 3 de Setembro de 2010

Atrasos


The Usual Suspects (1995) Bryan Singer

 

The Usual Suspects, é considerada uma das grandes obras dos anos 90; isso é mentira, o filme em si não vive ao nível do seu desfecho. Cinco criminosos (Stephen Baldwin, Gabriel Byerne, Benicio del Toro, Kevin Pollak, e Kevin Spacey que conquistou a fama com esta sua interpretação) juntam-se para fazer um grande roubo, quando dão por ela estão sobre o domínio de um lendário e mítico criminoso: Keryser Söze. A obra de Bryan Singer tem tanto de genial como de fatal; vamos chamar-lhe o "método esquizofrénico", este método consiste em deixar o filme desenrolar calmamente para preparar um grande estouro que é o final, final esse que inválida/quase que menospreza os seus antecedentes (resumindo: aqueles filmes em que quando citados a primeira ideia que surge na nossa mente é o seu suposto final inesperado). Bryan Singer não falha ao deixar a sua narração passear por entre uma linha de acção labírintica, o argumento de Christopher McQuarries também não é mau, só que a revelação final mata o filme.

O final emblemático não permite que o resto do filme se coloque no seu patamar, condenando-o.

 

 


Zebraman (2004) Takashi Miike

 

Após falhar no campo do terror com One Misses Call, Takashi Miike faz a sua estreia no campo de filmes de super-heróis com Zebraman, uma comédia que retrata a vida de Shin'ichi Ichikawa (Shô Aikawa) um professor de preparatória falhado que nunca conseguiu o respeito que merecia das pessoas que o rodeiam, Shin'ichi acalma as suas frustrações nas fantasias em que se disfarça de Zebraman um herói de um antiga série televisiva, ao ver que a ajuda de um super-herói é necessária, o protagonista começa a acreditar nele próprio e poderes sobre-humanos nascem nele.

Como se vê a lenga lenga do costume não falha, heróis frágeis que encontram forças dentro de si..., mas os poucos pontos fortes deste filme também não residem no seu argumento. Miike instala toda a sua criação aparentemente destinada a "serões familiares" num campo de comédia negra, o sabor é estranho já que aquela nuance infantil não foge nem surgem desconfianças sobre se Miike está a gozar com este género de filmes (refiro por exemplo a ridicularização de missões secretas do governo) o problema é que ele provavelmente está a gozar (surgiu em mim esta suspeita porque já estou habituado, aos seus jogos). De novo este realizador de culto mostra o seu dom em disfarçar segundas intenções e revela também falta de substância como tenho visto nos últimos filmes que vi seus. A obra não se impõe como uma sátira, ou como uma comédia "goresca" ou como bom entretenimento digno se der relembrado. Mais uma brincadeira deste realizador.... 

 

 


The Imaginarium of Doctor Parnassus (2009) Terry Gilliam

 

Doctor Parnassus (Christopher Plummer), o homem que em tempos contava a história do universo entra em mais um jogo de apostas com o seu "camarada" de longa data O Diabo (Tom Waits), camarada este que com as suas apostas deixou o Doutor na miséria. Mas agora Valentina (Lily Cole), filha de Parnassus, está em jogo e só com a ajuda de um estranho e novo membro na "tripulação": Tony (Heath Ledger, Johnny Depp, Collin Farrell e Jude Lae) é que o velho contador de histórias parece ter oportunidade de finalmente ganhar.

The Imaginarium of Doctor Parnassus é um conto inocente que tem a moralidade como base de toda esta fantasia, de interpretação fácil o público apercebe-se que as pessoas que entravam no imaginário do Doutor e se debatiam entre escolher isso ou a ilusão do Diabo, estavam simplesmente a optar entre a pureza da vida e o pecado; uma figura de estilo a quem foi dada a sua devida importância sem se dispersar - um ponto bastante forte na narrativa.

Infelizmente a última obra de Terry Gilliam tem mais pontos fracos do que fortes. A começar por desperdiçar a oportunidade de fazer algo inédito na sua carreira ao empregar os efeitos especiais, que apesar de surpreendentes tiram a meu ver toda a mágia nítida que reluz nas obras de Gilliam, apesar de belo o imaginário nunca descola de um cheiro a plástico e o charme desaparece.

Um outro grande erro nesta obra é a sua narração froxa, Heath Ledger morreu durante as rodagens e o argumento teve ser reparado e ajustado a entrada dos outros três "Tonys", devido a isso a composição da história torna-se imperfeita, incompleta e deixa a clara impressão de que parte importante da história da personagem jamais foi estabelecida. A narrativa surge com vários problemas saltando quase abruptamente de um acidente para outro.

Com um argumento cheio de potencial e bem conseguido e ainda algum entretenimento, a última obra de Terry Gilliam tinha tudo para ser um ponto sonante na sua filmografia, mas devido à sua concepção artificial que retira todo o seu charme e a uma narração acidentada, The Imaginarium of Doctor Parnassus revela-se um verdadeiro tiro ao lado. 

Não vou condenar na sua totalidade a obra por saber que infelizes razões exteriores comprometeram a realização do filme.

 


 


Almost Famous (2000) Cameron Crowe


William Miller (Patrick Fugit), um jovem inocente de 15 anos, é contratado pela ilustre Rolling Stone para cobrir por escrito uma tour dos Stillwater, uma banda de rock em ascensão. Ao ir em tour com a banda William é atirado para uma realidade diferente carregada de sexo, música e drogas, nesta sua excitante jornada o jovem repórter vai pela primeira vez conhecer os verdadeiros laços de amizade e o verdadeiro significado de família.

Inspirado na adolescência do próprio realizador, Almost Famous surge como uma obra que revela parte da música que nunca foi revelada. A obra cresce gradualmente graças a um argumento com potencial e a música nunca perde o seu protagonismo, infelizmente Cameron Crowe optar por "ficcionar"  também gradualmente o fluxo de acção, pieguices despropositadas e falsos momentos cómicos tornam o filme leve de mais para o que tentava relatar.

Patrick Fugit encaixa perfeita na personagem e apesar de todas as cenas em que ele entra serem irritantes duvido que isso não seja propositado; os Stillwater definem na perfeição as típicas bandas sem potencial e com ambições desmedidas, genialmente a futilidade e a falta de profundidade da música vem ao de cima. Aparentemente tudo encaixa e tudo tem papel, à excepção de Penny Lane (Kate Hudson) uma líder groupie detestável que vai ganhando protagonismo até se tornar numa chave do filme, chave essa que abre a porta a tudo que o filme tem de mau (as pieguices já referidas, fofoquices, etc.). Não discordo da existência de uma ficção paralela à música mas não desta maneira! O filme perde todo o seu potencial e fico em suspeita se  Cameron Crowe fez este filme para nós ou para ele.

 


 


Matador (1986) Pedro Almodóvar

 

Filme protagonizado por Assumpta Serna, Antonio Banderas e Nacho Martínez, Matador cria um elo de ligação entre o sexo, a igreja e a morte. Esta grande coexistência é transporta para o quotidiano, mais propriamente na vida de dois homens opostos, um ex-toureiro (Nacho Martínez) sadomazoquista e o seu aluno (Antonio Banderas) puro e inseguro traumatizado por uma educação regida baseada nos princípios da igreja. Como de costume Almodóvar explora o erotismo ligado a fetiches diferentes, maioritariamente chocantes. Desta vez a comédia paira de certo modo na sua obra tirando-lhe um certo fulgor e força; a sua ideia não consegue ser transmítida na sua totalidade e carnalidade do acto sexual não consegue de nenhuma maneira atingir o charme que devia. Aos mostrar os dois paralelos de uma forma tão moderada (tempo de antena) Almdóvar não consegue criar aquele elo que tanto procurava e nenhum dos dois opostos se afirma.

Uma obra menor que não me encheu o olho, mas que mesmo assim não a considero de todo dispensável na vasta filmografia deste autor contemporâneo, chamemos-lhe uma obra de transição. 

 

 


Inception (2010) Christopher Nolan

 

Toda a complexidade do seu argumento tira qualquer utilidade a uma sinópse de modo que a crítica resume-se a um ataque e a uma defesa.

Inception é o último filme de Christopher Nolan, um autor recente que se tem vindo a revelar como um dos pesos pesados na categoria do bom entretenimento; apesar de considerar esta obra um "flop" o realizador britânico não desceu nenhum patamar na minha consideração (autor de obras com qualidade como Memento ou Batman Begins). A obra a meu ver atingiu todo o seu pontecial, a sua complexidade implementou uma certa discórdia nos seus ideais. Inception é um bom filme de entretenimento ou um filme desafiador como muitos gostam? Bem, eu acho que não é nenhum. Num argumento um tanto labírintico Christopher emprega uma narração extraordinária, nunca perdendo intensidade e conseguindo conjugar todas as falhas. Mas a que falhas me refiro? Refiro-me à inexistência de personagens, a partida a equipa organizada por Leonardo DiCaprio era composta por especialistas em alguma área...será mesmo? A jovem arquitecta (Ellen Page) não tem qualquer utilidade prática e a sua importância cinge-se a "cuscuvelhices", o resto da "malta" não passa de meros action mans, DiCaprio está tal e qual ao à sua personagem em Shutter Island. 

O filme ao entrar no seu climax converte-se num mero jogo de vídeo que tresanda a Matrix, e lá pelo meio enfia questões intrínsecas que baralha o espectador sobre o verdadeiro propósito deste filme. Como previsto o final fica em aberto e todo o aparato que apontava este filme como um potencial épico não existe devido à sua indefinição.

Nolan tentou fazer algo complexo no meio de algo simples, nunca se conseguindo definir, com um argumento "estabalhuado" mas ainda assim uma realização boa, Inception junta-se a Insomnia como uma obra menos conseguida deste jovem autor.

 

 


Eastern Promises (2007) David Cronenberg

 

Uma jovem adolescente Russa residente em Londres, morre durante o parto deixando pistas num diário. Anna (Naomi  Watts), uma das enfermeiras presentes no parto da falecida, fica com o diário e também ela de ascendência descobre que a adolescente estava associada a uma perigosa família de máfia russa. A preocupação de Anna sobre o futuro do bebé orfão é demasiado grande e esta entra num mundo de criminosos a fim de conhecer o paradeiro de um possível familiar da mãe da criança, infelizmente ele não sabe o risco que corre e a importância que o dito diário tem.

O filme parecia destinado à convecionalidade, à primeira vista não havia qualquer elemento que se sobressai-se e nos fizesse pensar que este filme era mais do que um mero thriller, isso não é verdade, há dois grandes elementos que transpõe Eastern Promises para outro patamar: a direcção gélida de Cronenberg, um mestre do horror que já deu mais que provas que a "tortura de carne" não indispensável para criar um "monstro"; há ainda a hipnótica actuação de Viggo Mortensen que personifica com a maior das naturalidades um frio mafioso do leste, a sua personagem não é de todo simples, mostra sinais de bondade mas maquilhados com bruteza deixando o público num certo clima de inquietação sobre os verdadeiros propósitos deste protagonista.

Cronenberg não decepciona os fás, criando momentos explosivos de súbita violência que chocam pela sua crueza e natureza gráfica. Ao mesmo tempo a fotografia mergulhada em sombras de Peter Suchitzky, contribui para transformar Eastern Promises numa experiência correctamente desconfortável. A cena da luta nas casas de banho públicas, é já uma referência dentro do género, já que a vulenrabilidade de Mortensen é realçada não só pela sua nudez cmas também pela coreografia realista e uma montagem seca e directa.

 

 


Killing me Softly (2002) Chen Kaige

 

Alice (Heather Graham) forçada pelos seus desejos, abruptamente termina o longo relacionamento com o seu namorado para embarcar numa viagem de delírios sexuais com Adam (Joseph Fiennes), um montanhista com um passado obscuro que o ainda persegue. 

(Antes de começar a crítica)...porque que carga de água é que um realizador tão respeitado como Chen Kaige logo à partida aceitou liderar um projecto com uma matéria tão pobre!? Sim a realização por ela já é má mas o filme tem tudo de mau, a começar por um argumento péssimo, para mim o pior que o filme tem; sem retirar as culpas ao foco que o realizador resolveu dar à nudez, o argumento não passa disso e de um falso jogo de consciência; ainda há a "poética" e insípida narração in media res pela protagonista (mais um dos infimos toques de mau gosto que esta obra tem), o mais admirável é que o argumento ainda nos reserva um twist final de: "esteve sempre debaixo do teu nariz mas nunca deste por ela" - brilhantemente mau, mau!

Como já referido Chen Kaige consegue piorar a história que tinha para exculpir de tal maneira que a existência de um realizador é quase dada como nula. As prestações dos protagonista são vazias e eles próprios sabem que só estão nesta obra por ambos serem fetiches de uma grande parte do público.

Killing me Softly é uma daquelas obras tão más que se singe ao lema "ver para crer".

 


publicado por Diogo às 02:57
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