Sábado, 24 de Julho de 2010

25th Hour (2002) Spike Lee

A Montgmery Brogan/Monty (Edward Norton) restam-lhe apenas 24 horas de liberdade depois de ter sido condenado a uma pena de sete anos por tráfico de droga (um passado que o envergonha). Os seus entes queridos preparam-lhe uma festa de despedida; a sua última festa. 

O filme todo encaixa na aparente forma passiva como Monty encara o seu futuro que se distorce em desespero e paranóia por vezes, o protagonista abraça um papel auto-penitenciário mas ao mesmo tempo de conformação até chegar ao pico do drama que é a desistência da vida - se for preso muito provavelmente não sobrevivera, se tentar fugir terá de deixar a sua actual vida para trás (o suicido chega a ser posto em equação). Com isto tudo, o único sentimento que o público pode nutrir por esta personagem é o de pena e reconforto, apesar de se destacar como protagonista no meio de drama de terceiros Monty não deixa de ser uma vítima de ele próprio. As histórias paralelas à principal tornam-se mais interessantes e mais humanas, já que o filme não evolui; pensei que ia ver um filme que retratava o chamamento à realidade e à redenção de um criminoso que tarde de mais se apercebeu do mal que tinha feito, mas não...Monty é uma jóia de moço desde os créditos iniciais, ele simplesmente vai ficar com saudades de tudo quando partir

Continuo com a ideia de que Edward Norton faz um papel siamês ao que fez durante a segunda metade do America History X. 

Spike Lee tem o mau gosto e a lata de fazer de uma cena que é uma má "auto-cópia" o suposto ponto máximo do filme; refiro-me à cena em que a partir do "fuck you" (uhuhuh agressivo) pintado num espelho Monty entra num explosivo tiroteio de ódio e culpabilização para com as etnias divergentes da sociedade e os seus estratos; aparentemente esta crítica social tenta fazer do protagonista um homem menos transparente e mais complexo, não consegue; a cena é uma cópia barata de uma sequência genial do Do the Right Thing (também de Spike Lee) e mostra que o realizador não consegue viver sem as suas forçadas e por vezes desnecessárias exposições cruas da sociedade racial, nós sabemos que tu és negro e inconformado não é preciso reforçares, também sabemos que tens fibra para chapar na cara do público as injustiças sociais mas por favor vamos tentar ser moderados.

Poderia surgir um filme bem interessante a partir do plano secundário, refiro-me à visão dos dois amigos mais próximos do condenado para com o futuro negro que o seu amigo teve; e ainda há cenas de incontestável beleza mas Spike Lee quis dar voz a um falso coitado e ao povo, e justificar a falta de substancia apropriada com um falhado fim poderoso.

 

 

publicado por Diogo às 03:00
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Shadows (1959) John Cassavetes

A primeira obra rodada por Cassavetes conta-nos a história de três irmão de etnias diferentes residentes em Manhattan; o irmão mais velho (Hug Hurd) um cantor de segunda é visivelmente negro, Beni (Ben Carruthers) passa por "mulato" enquanto que Lelia (Lelia Goldoni) é tipicamente branca. Esta obra foi filmada sem a existência de guião, crescendo a partir do improviso dos actores, dando ao filme uma rara sensação de delicadeza e "convivência" emergidas de uma intocável naturalidade e beleza.

As principais explorações deste filme são assuntos como o racismo, a forma blaze de encarar a vida, família e carreiras falhadas; assuntos retratados correntemente, mas neste caso de uma forma moderna cheia de charme, forma esta que consegue fazer frente ao charme de Godard. As linhas de baixo e o resto da banda sonora criam um estranho ambiente de conforto e um filme inteiramente prazeroso.

Possivelmente esta é uma intrepretação minha e possivelmente errada mas eu encontrei bipolaridade em várias personagens, as carregadas nuances nas alterações dos sentimentos das personagens era de tal forma vincada que me conseguiu fazer engolir aquilo como usual.

A contemporaneidade do filme surge ao mesmo tempo que a da Nouvelle Vague, merecendo ser destacada com igual relevo devido à sua fresca e despreocupada visão.

Retratando a geração beat emergente nos anos cinquenta, geração esta que entrou em rejeição com os valores mainstream, Shadows define-se como uma relíquia sintetizada e expressiva desse mesmo movimento/época.

Uma obra de imortal independência que se consegue enaltecer devido à vitalidade que a cor amadora da equipa proporciona ao filme.  

publicado por Diogo às 02:19
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Sexta-feira, 23 de Julho de 2010

One Missed Call/ Chakushin Ari (2003) Takashi Miike

Pensem em todos os filmes de terror contemporâneos e em todos os clichés mais sonantes...a avó morta, a mãe maluca e vingativa, o pai ausente, algo escondido no armário, estranhas convulsões, a pequena rapariga maléfica com longos cabelos pretos que aparece do nada, alguém que diz que está tudo bem que está tudo ok seguido de um momento de aparente paz estourando com algo ainda pior do que anteriormente visto, a explicação de que o mal tem origem numa morte qualquer...todos eles fazem parte de One Missed Call! É como se não houvesse argumento, como se simplesmente existisse um campo magnético que atraisse tudo a que se podia chamar de terror, até o momento em que nada fazia sentido e aí tudo estava a postos para ser filmado.

O filme tem as suas cenas interessantes e bem executadas, mas nada que justifique este falhanço que é uma mera curiosidade para pessoas que já conhecem o realizador.

A história é muito simples...os amigos de uma jovem estudante (Kou Shibasaki) começam a morrer de maneiras inexplicáveis, todas as mortes encontram-se associadas a enigmáticas mensagens no voicemail dos telemóveis das vítimas que prevêm a sua futura morte e as suas últimas palavras, ou seja os últimos momentos de vida das personagens já foram gravados e enviados por telémovel dias antes de acontecerem. A protagonista faz equipa com um sujeito introvertido (cuja irmã morreu sobre as mesmas circunstâncias), e juntos tentam desvendar o que esta por de trás destes pavorosos assassinatos.

O terror é um género muito sensível onde é muito difícil de se ser realmente genial, e actualmente os filmes infelizmente associados a este género vivem de rápidos e fugazes momentos assustadores; o ambiente é formulado como de costume para culminar com uma cena impressionante, mas as cenas vão e vêm e nada consegue suster a sua preparação com intensidade.

Já encontrei gente incrédula com esta banalidade de obra vinda do incontestado Miike, gente que chega mesmo a dizer que o filme não passa de uma sátira aos actuais filmes de terror maioritariamente asiáticos (filmes como o Ringo ou Ju-On), mas como é que uma paródia consegue por si própria tornar-se mais burra que o próprio objecto de gozo e exibir-se tão pouco como uma brincadeira? A paródia não devia ser obtusamente mais frustrante do que a base da sátira! Ainda assim fico em dúvida por diversos motivos tais como: o final do filme, um lindo, descabido e perfeito gozo ao desconhecido (é mesmo, não tem explicação possível o desfecho) e como é que o pai do meu adorado Ichi, The Killer não consegue estar ciente do aglomerado de clichés que recolheu?

A obra vai acabar por ter mais do que devia, pois One Missed Call é uma das obras com um dos propósitos mais enigmáticos que eu já vi. Mesmo que seja uma sátira o filme não deixa de ser mau e dispensável na carreira de Miike.

publicado por Diogo às 03:05
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Quinta-feira, 15 de Julho de 2010

Ran (1985) Akira Kurosawa

Num dia de caça com os seus filhos e alguns dos seus aliados, Hidetora (Tatsuya Nakadai) faz uma surpreendente anunciação, ele irá dividir todo o seu reino e os seus três castelos por entre os seus três filhos. Já com uma idade considerável, o Lord que já atingiu toda a sua potencialidade ao conquistar tudo que o rodeava e ao estabelecer a paz decide que este é o seu momento para descansar, entregando assim a Toru, seu filho mais velho, o cargo de senhor de todas as terras.

Soomente o seu filho mais novo, Saburo (Daisuke Ryu), expõe a sua opinião dizendo que esta divisão fará com que eles os três se debatam pelo conquista do poder instalando assim a guerra no seio de uma família e também pelas suas terras onde a sedenta ambição comanda. À medida que Ran se vai desenrolando nós gradualmente comprovamos que Saburo estava correcto.

Kurosawa explora a motivação de todas as personagens sem se esquecer de analisa-las, os protagonista são nos dados a conhecer de modo a que as forças que os movem nos sejam palpáveis, aumentando o caractér épico e dramático das "explosões" que este filme toma.

Um ponto inesquecível nesta grandiosa obra é a surpreendente caracterização dos seus intérpretes, a forma detalhada como o autor e a sua equipa apresentam uma época, cria de facto uma realidade dificil de acreditar que seja encenada; aliada à humanidade de samurai vincada, e mesmo vivida pelos actores este filme parece por e simplesmente um gomo do passado de tão realista que se torna.

O filme toma uma dinâmica pausada para livremente deixar os seus componentes crescer, tudo que nós temos de conhecer é minuciosamente nos apresentado e todos os elementos com o passar da obra se revelam cada vez mais indispensáveis, o colidir épico não consegue tirar de nenhuma maneira todo o brilho às cenas que o antecedem. 

A caracterização, a vagarosa e detalhada maneira como as personagens são exposta a interiorizarão de uma outra época são os ingredientes que fazem de Ran sem dúvida uma das maiores obras épicas de sempre. Um quadro perfeito impossivel de explicar já que a ficção se torna tão perfeitamente em realidade.

Akira Kurosawa conhece bem de mais o passado do seu país

publicado por Diogo às 02:48
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Bande à Part (1964) Jean-Luc Godard

Considerada por muitos a obra-prima de Godard, Bande à Part conta-nos a história de dois marginais que dão a volta a uma ingénua rapariga para os ajudar num assalto à sua abastada tia. Os três protagonistas formam um triângulo amoroso, Odile a jovem "vítima" desempenhada pela bela Anna Karina, tenta escolher entre o ameaçador e calorso Arthur (Sami Frey) e o nervoso e suspeito Franz (Claude Brasseur).

O filme retrata e comenta géneros e filmes do cinema em geral; Godard mostra-se fascinado com a estrutura narrativa dos filmes, e com o suspense em particular. Com este filme ele desmonta estas suas duas paixões/inquietações, fazendo da juventude e a inocência vozes paternas do seguimento da história, imortalizando a sua energia e os seus sonhos infantis (o típico charme deste autor). Ao mesmo tempo ele aponta os aspectos ilógicos e limitações deste género e desta narrativa, ao conciliar o desenvolvimento do estudo da juventude descontextualizado do esqueleto narrativo à típica linha de história de um thriller; com isto Godard consegue mais uma vez modernizar um género e deixar o seu cunho bem claro e distinto na história do cinema.

O filme consegue desenvolver-se com mestria numa situação narrativa de pouca energia de acção mas sem nunca perder o seu carácter de entretenimento o que torna o filme inovador e "prático"/usual ao mesmo tempo.

As "pequenas" e deliciosas cenas abundam neste filme tal como a mítica dança improvisada pelo trio(que consegue despreocupadamente e sintetizadamente distinguir francamente os três intérpretes), ou os 36 segundos de puro silêncio.

Os filmes de Godard são feitiços não explicáveis na sua totalidade, o seu trabalho único as suas narrativas próprias são uma das caras da Nouvelle Vague, um movimento que mudou para sempre o cinema.

Ainda assim Bande à Part não me enfeitiçou como outras obras deste autor o fizeram.

publicado por Diogo às 02:38
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Ciclo: Harmony Korine

Antes de começar com o rápido apanhado do ciclo, primeiro tenho de encher isto de desculpa de porque é que o meu segundo ciclo no Estendal se tornou numa dupla sessão... É simples: A filmografia de Korine ainda é curta, antes de começar o ciclo já tinha visto o seu primeiro filme (Gummo) e as duas adaptações mais conhecidas dos seus argumentos (Ken Park e Kids), a minha única opção era ver os filmes da sua autoria que sobravam (Julien Donkey-Boy, Mister Lonely e Trash Humpers). Foi impossível arranjar a sua última obra referida e achei tolice adiar o ciclo não tendo a certeza de quando conseguira ver o filme em falta. O propósito de um ciclo na minha opinião é a oportunidade de conhecer o autor no seu todo ou ficar com uma ideia construída dos seus princípios, apesar de curto este ciclo seguiu esse propósito

 

Cheiro: Achei o Gummo (considerada a sua obra-prima) um filme mediocre com alguma piada e charme mas pouco. Vi ainda o rídiculo Ken Park e o desaproveitado Kids, resumindo parti para este ciclo de ideia feita de que iria abominar este autor. Enganei-me, bastaram dois filmes para encarar Harmony Korine como um realizador que apesar de não ter jeito tem o seu toque e a sua graça. Não consigo dizer que ele ame o cinema, consigo assegurar que ele ama a sua arte e a sua criação e isso faz dele uma das mentes mais interessantes da actualidade no panorama da sétima arte. Gostei francamente de Julien Donkey-Boy achando-o uma obra que retratou de uma maneira única a demência da mente humana. Apesar de leve e pouco adulto, Mister Lonely tem a sua graça inconfundível e um par de cenas geniais e únicas

 

Trabalho Passado: Só me falta ver a sua última obra (Trash Humpers) que apesar de não ter expectativas, anseio ver.

 

No futuro: Sem dúvida um dos realizadores contemporâneos que mais de perto acompanharei o avanço dos seus projectos. Apesar de achar que nunca virá a ser um músuclo do cinema futuro, acredito que Harmony Korine consiga fazer algo maior no futuro


 

                

publicado por Diogo às 01:30
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Quarta-feira, 14 de Julho de 2010

Teorema (1968) Pier Paolo Pasolini

Um enigmático visitante dentro de uma família burguesa abastada, seduz a empregada, o filho, a filha, a mãe e o pai; partindo da mansão uns dias a seguir. Após a sua partida, nenhum membro da família consegue continuar a viver da mesma maneira que vivia no passado.

Teorema é uma alegoria dividida em dois actos que emerge o erotismo e a religião num contexto intemporal. Pasolini jogando sobretudo com o sexo, a igreja e as forças da sociedade emprega estes elementos como detalhes da sua evidente premissa, uma repentina revelação que possibilita a auto satisfação do homem consegue romper livremente com os limites mais altos da sociedade e dos princípios comuns. 

Pasolini com uma ideia inovadora transpõe a sua premissa para um lar de burgueses e faz de um estranho visitante o rastilho (a dita repentina revelação) para o descobrimento pessoal de cada um dos intervenientes.

A figura que Terence Stamp desempenha (o visitante) assemelha-se a uma terceira entidade sem partidos, não se fixando como um hipotético santo ou demónio, apenas um objecto divino sobre a forma de guia. A sua partida, como já referida altera a vida das suas "vitimas", que cria uma sensação de infelicidade e desamparo (os intervenientes sentem-se perdidos apesar de terem objectivos e crenças) agora que conquistaram novos valores. Apenas a simples empregada consegue ter forças para "sobreviver" e traçar o seu próprio milagre; este contraste surge como uma das maiores críticas do filme já que Pasolini nos dá a ideia de que nada na burguesia (apesar de bem intencionados) consegue ter sucesso fora dos campos sociais comuns e da moralidade.

O filme é um choque de ideias e um autêntico festival de alegorias que nos chapam a santidade de caras, sem rodeios sem a necessidade do choque brato cada cena é um quadro e o absurdo não é desmedido, com todos os componentes a harmonizar na perfeição; a mensagem desta obra apesar de para muitas pessoas não ser entendida, para todas as pessoas é sentida.

A redenção pessoal, e a reforma psicológica nunca foi tão vorazmente retrata como neste filme. 

Um filme magicamente lírico indubitavelmente honesto, sentido e pessoal. A fusão de tantos tópicos divergentes no chamamento à universalidade faz desta obra uma bela e justificável peça bizarra.

publicado por Diogo às 03:04
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The Happiness of the Katakuris/ Katakuri-ke no Kôfuku (2001) Takashi Miike

Um chefe de família compra uma casa de hóspedes nas montanhas com o objectivo de iniciar uma vida calma e pacífica com a sua família. O negócio não corre como planeado já que todos os escassos clientes acabam sempre mortos durante a sua estadia por diferentes razões.

Esta tentativa de musical é um completo imbróglio e um autentico tiro ao lado por parte de Miike. Há de tudo: animações com plasticina repentinas, surrealismo despropositado (refiro-me ás cenas do início) terror, policial, dramas emotivos familiares e por ai fora. Admito que esta divergencia se fosse bem medida poderia resultar em algo bastante interessante mas tudo cai no exagero. O ambiente pacato e apreciável que por vezes é transmitido desfanesse-se quando tudo se torna berrante e propositadamente estranho.

O filme tem as suas qualidades, já que apesar de falhar na sua acessibilidade (um filme que deveria ser desfrutável torna-se maçudo) consegue criar as suas cenas de temática familiar e momentos musicais únicos (adorei o musical que se dá aquando a morte do primeiro hóspede).

A animação soa tanto a uma tentativa falhada de inovação, dando a este filme a imagem de algo que aspira a mais do que devia, o filme foge à ideia de se tratar de uma obra desfrutável e falha, passa então a ser um turbilhão de ideias que se definirá como algo sem género e sem definições entrando assim no  topo dos filmes de culto.

Há ainda o segundo ponto de vista que tem o mesmo peso que o primeiro fazendo-me não odiar esta obra. A meio do filme comecei a encarar Happiness of the Katakuris como uma confusão assumida sem propósito, como se de um batido se tratasse, uma experiência que propositadamente se afirma como confusa tornando-se numa das comédias mais surreais que eu vi até hoje.

Não sei para onde me virar, mas o pior de tudo é que o filme é um falso remake a uma obra coreana (The Quiet Family). Miike tentaste fugir ao teu campo  e bom esforço ao tentares variar mas não vale a pena haver repetição.


publicado por Diogo às 02:22
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Terça-feira, 13 de Julho de 2010

Mister Lonely (2007) Harmony Korine

Passados oito anos de "descanso", Harmony Korine regressa com a história de uma comunidade "outsider". Em Paris, um jovem americano (Diego Luna) que trabalha como um imitador do Michael Jackson conhece uma emitadora de Marilyn Monroes que o convida a viver numa comunidade isolada na Escócia, onde vive com Charlie Chaplin, Shirley Temple e outros tantos imitadores.

Contrastando com as suas posteriores obras grotescas (Gummo e Julien Donkey-Boy) Mister Lonely expõem se de uma forma gentil e estranhamente dócil.

Harmony sempre se sentiu atraído por este tipo de personagens ocultas - os perigosos e impetuosos adolescentes em Kids, a juventude alienada em Gummo ou a esquizofrenia em Julien Donkey-Boy.

Em Mister Lonely o foco passa dos adolescentes para os adultos, ainda assim estas personagens crescem como indivíduos que psicologicamente brotaram como peculiares. 

O filme dança por entre o drama existencialista e a comédia, continuamente, dando a Harmony a oportunidade de expor a fragilidade dos imitadores e também o absurdo das coisas, como a Rainha e o Papa na cama juntos ou os três Stooges e Lincoln a matarem ovelhas.

Paralelamente à trama principal é nos contada a história e de um grupo de freiras que faz queda-livre sem para-quedas e sem morrer, fanzendo das orações e da sua puridade de alma o seu aparo; se isto é simplesmente aleatoriedade ou se é um barato apelo à crença isso eu não, apenas sei que se trata de um momento de cinema único e no melhor que o filme tem.

Na minha opinião esta obra consegue ser até à data a obra mais acessível de Korine, recheado de personagens e cenas inesquecíveis que revelam que este realizador em primeiro lugar é um incontestável apaixonado pela sua criação. Variadissimas cenas de extrema beleza aparecem como desencaixadas e sem propósito pois Korine sente-se na obrigação de inclui-las no leque, aqui reside a verdadeira genuinidade deste projecto e realizador mas também a sua principal fraqueza.

Apesar de ter uma ideia base muito interessante, desde cedo que o filme perde o fio à meada tranformando-se numa sucessiva passagem de cenas originais. O assunto base é retratado com desleixo e nada no filme consegue atingir a sua devida intensidade, menos a cena de abertura que apesar de aparentemente descontextualizada sintetiza e retrata na perfeição o deslocamento e a infelicidade deste tipo de pessoas.

Uma nova etapa na prometedora carreira de Korine, um autor que eu aprendi a dar valor.


publicado por Diogo às 12:12
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Audition/ Ôdishon (1999) Takashi Miike

Sete anos após a morte da sua mulher, Aoyama é convidado por um amigo seu a assistir a uma audição para um papel feminino com intuito de encontrar uma nova companheira. Yamazaki Asami, uma ex-bailarina chama-lhe logo à atenção pela sua aparente inocência e capacidade de aceitação. Após a audição, Aoyama e Asami começam a sair juntos e a jovem rapariga progressivamente vai revelando as suas tortuosas memórias de infância evidenciando que esconde uma face oculta e perigosa.

Audition seguindo a lógica da narrativa inovadora do Massacre no Texas, vai-se construindo lentamente guardando para o fim um culminar tão estrondoso que consegue abranger toda a obra, o problema é que Audition falha redondamente. O filme chega mesmo a ser enfadonho, e subitamente entra num campo de pseudo-surrealismo onde recorre a típicos pormenores para causar impressão.

O caminho da história segue somente os traumas de Asami, e o também traumatizado Aoyama (tal como o seu filho que nos seus 5 anos vê a sua mãe morrer perante ele) é colocado instantaneamente no papel de vítima de recurso.

Tem o seu interesse a exploração da criação de um monstro, já que a inocente rapariga desencadeia esta espécie de vingança devido aos horrores de infância que a assombram, só que Miike resolve meter o feminismo ao barulho; a vingança louca e despropositada ganha o aspecto de uma crítica à falta de princípios do homem, mas Aoyama é uma jóia de homem (!) que somente quer entender e ajudar Asami, nunca tentado tirar proveito dela, apenas procura proporcionar-lhe estabilidade, a vingadora é que lhe oferece o corpo (?!); desta forma a vingança bi-partida perde por um lado (revolta feminista) todo o sentido e propósito que ao mesmo tempo tira a luz à génese de um monstro (a outra face da vingança).

Quando acabei de ver o filme não consegui resistir e idealizei uma versão deste projecto, porque não retratar paralelamente o trauma de um filho sem mãe e de um pai viuvo? Porquê marca-los logo como meros peões e peças fundamentais para o espectáculo grotesco ter início? 

Audition tinha todo o potencial para fazer jus ao seu filme de inspiração, mas Miike resolveu tomar o lado das meninas desvalorizando assim o horror e a intensidade que este filme deveria ter.

O final apesar de surpreendente não justifica o filme.

publicado por Diogo às 03:33
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